terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Existe apenas uma coisa necessária para se escrever:

Existe apenas uma coisa necessária para se escrever: confiança.

Não a confiança que vem de fora, dos elogios da sua antiga professora ou dos amigos, tão pouco daquele concurso de contos que você ganhou aos dezessete anos e da meia dúzia de leitores do teu blog.
Vem das leituras, de certa forma, mas não é suficiente. Nem todo bom leitor é escritor, embora o contrário seja impraticável. 

A confiança de crer em algo inútil e ainda assim persistir. A confiança de estar dizendo a verdade? Embora escrever não tenha a ver com a verdade, precisa parecer verdadeiro, precisa convencer; e a primeira pessoa a ser convencida e de certa forma enganada pelo texto, é você mesmo.

Confiança.

Mas as leituras e o tempo produzem um tipo de auto-crítica que acaba soterrando sua crença. Se não dá pra fazer melhor ou igual, por que persistir com escritos que não trazem nenhuma novidade, nem um tipo de sentimento revisitado de maneira mais ou menos autêntica, se não traz um prazer ao leitor?

No começo, a falta de confiança manda seus textos pra gaveta.

Depois, a falta de fé impende que os textos venham à tona. Cortam o processo criativo pela raiz, e quanto menos se escreve, menos confiante se fica.

E ninguém precisa te dizer que tudo isso é inútil, e que poucos conseguem chegar lá, que é melhor fazer um concurso da Caixa ou INSS ou investir numa carreia acadêmica a longo prazo, porque você sabe disso.

A confiança vai evaporando aos poucos. Aparece com menos frequência e se você não fizer nada, você está tão árido que nunca mais vai escrever nada.

Parece auto-ajuda, e talvez seja, mas se você não cultivar essa fagulha de confiança que ainda resta, esta que te coloca contra o mundo, numa batalha perdida e sem recompensa, você está acabado. E depois de perder a fé em si mesmo, não importa o que você faça, nada mais funciona.

É preciso um pouco de loucura pra escrever. Acreditar em si mesmo, para que o leitor acredite em você, para que você acredite em você.

É preciso um pouco de loucura pra escrever. Para que o texto contagie e convença. Contagie você e contagie quem lê.

Sem confiança, a desistência absoluta é só questão de tempo.

Onde encontrar confiança?

Não importa, desde que você encontre.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Dez escritores falando sobre escrever, inspiração, etc

William Faulkner:

"Não sei nada a respeito da inspiração, porque não sei o que é - ouvi falar a respeito dela, mas nunca a vi."

Roland Barthes:

"Como escrever não é uma atividade normativa nem científica, não posso dizer por que nem para que se escreve. Posso apenas enumerar as razões pelas quais imagino escrever:


1. por necessidade de prazer que, como se sabe, não deixa de ter alguma relação com o encantamento erótico;
2. porque a escrita descentra a fala, o indivíduo, a pessoa, realiza um trabalho cuja origem é indiscernível;
3. para pôr em prática um 'dom', satisfazer uma atividade instintiva, marcar uma diferença;
4. para ser reconhecido, gratificado, amado, contestado, constatado;
5. para cumprir tarefas ideológicas ou contra-ideológicas;
6. para obedecer às injunções de uma tipologia secreta, de uma distribuição guerreira, de uma avaliação permanente;
7. para satisfazer amigos, irritar inimigos;
8. para contribuir para fissurar o sistema simbólico de nossa sociedade;
9. para produzir sentidos novos, ou seja, forças novas, apoderar-me das coisas de um modo novo, abalar e modificar a subjugação dos sentidos;
10. finalmente, como resultado de uma multiplicidade e da contradição deliberadas dessas razões, para burlar a idéia, o ídolo, o fetiche da Determinação Única, da Causa (causalidade e 'boa causa') e credenciar assim o valor superior de uma atividade pluralista, sem causalidade, finalidade nem generalidade, como o é o próprio texto."




Rachel de Queiroz:

"A noção comum que se tem a respeito do escritor é que pessoas excepcionais, nascidas com o dom de escrever bem o belo, são periodicamente visitadas por uma espécie de iluminação das musas, ou do Espírito Santo, ou de um outro espírito propriamente dito - fenômeno a que se dá o nome de 'Inspiração'. O escritor fica sendo assim uma espécie de agente ou médium, que apenas capta as inspirações sobre ele descidas, manipulando-as no papel graças 'aquele' dom de nascimento que é a sua marca. Pode ser que existam esses privilegiados - mas os que conheço são diferentes. Não há nada de súbito, nem de claro, nem de fácil."

João Cabral de Melo Neto:

"Há dois tipos de poetas: os esforçados e os inspirados. O poeta inspirado tem defeitos que o esforçado não tem, e vice-versa. Eu, por uma questão de temperamento, me coloco entre os esforçados. Há quem diga que tudo que não é espontâneo não é autêntico, mas não concordo com a opinião. Com o esforço, pode-se aperfeiçoar sempre uma obra, independente da inspiração". 



Amós Oz:

“Depois de percorrer todo o caminho, da extrema direita até a esquerda, eu decidi que preferia contar histórias em vez de dizer ao mundo como viver. Desistira dos discursos com pontos de exclamação. No processo, o que eu havia aprendido? Ironia, ceticismo, relativismo. E um pouco de humor, que vem junto no pacote. Aprendi também a arte de ouvir. Ouvir é importante, num país onde as pessoas só gritam. Por causa dessas lições, tento ser o advogado de todo mundo em meus romances e busco grau idêntico de empatia com cada personagem. Só escrevo quando percebo, dentro de mim, diversas vezes, um mesmo assunto. Claro que tenho opiniões próprias, mas não quando faço ficção”.

Don DeLillo:

"Eu me tornei um escritor vivendo em Nova York e olhando, escutando e sentindo todas as grandes, espantosas e perigosas coisas que a cidade acumula incessantemente. Também virei um escritor evitando ter comprometimentos sérios".


Ernest Hemigway:

"Das coisas que aconteceram, e das coisas tal como existem, e de todas as coisas que se sabem e de todas aquelas que não se sabem, a gente faz algo, através da invenção, que não é uma representação, mas sim algo inteiramente novo e mais verdadeiro do que qualquer coisa verdadeira e viva, e a gente lhe dá vida, e a faz bastante bem, e lhe dá imortalidade. Eis aí por que se escreve, e não por qualquer outra razão que se saiba. Mas que dizer de todas as coisas que ninguém conhece?"

Italo Calvino:

"De certo modo, acho que sempre escrevemos sobre algo que não conhecemos, escrevemos para dar ao mundo não-escrito uma oportunidade de expressar-se através de nós. Mas, no momento em que minha atenção vagueia da ordem estabelecida das linhas escritas para a complexidade mutável que nenhuma frase consegue apreender totalmente, chego quase a entender que além das palavras há algo que as palavras, poderiam significar".

Juan José Saer:

"As razões por que se escreve ficção são as mesmas por que se crê em Deus. Crê-se na ficção, e em Deus, para que ela confirme a realidade do mundo e lhe dê um sentido. A Bíblia é o exemplo de um livro que permanecerá no futuro, como uma grande ficção, ainda que seus objetivos inicias tenham sido outros".


Ricardo Piglia:

"Porque o mundo da ficção me intriga: a circulação das histórias, os disfarces da língua e o poder da crença. A literatura é o laboratório do possível: um lugar onde pode se experimentar, fazer a mistura do velho com o novo. Escrevo porque a literatura é a forma privada da utopia".

domingo, 19 de dezembro de 2010

10 dicas para escrever bem e obter sucesso como escritor.

1) Nunca tente escrever o grande romance da sua época ou será o seu atestado de morte.

2) Seja covarde, minta e jamais tenha a literatura como prioridade.

3) Fale exageradamente do seu trabalho. Escreva resenhas para seus próprios livros e mande os amigos assinarem.

4) Siga as tendências da sua época e tente agradar os leitores e evite dar entrevistas; ou, ao contrário, uma postura rígida, o cabeça dura formal que segue o próprio caminho: adote uma estratégia de auto promoção sombria e perturbadora, espalhando boatos referente à sua origem, como seus pais psicóticos se mataram colocando fogo no próprio corpo quando você era um bebê; cresceu perturbado, enfastiado e triste, mesmo que por fora parecesse um sujeito normal, coloque tudo isso em um texto confessional em que relata sua última e desesperada crise de pânico causada por fobia social aguda, quando saiu pra comprar pão na padaria, e publique no seu blog junto de uma foto em alta resolução do seu ombro direito.

5) Junta-se a algum bando de artistas. Vá aos bares, palestras, eventos onde os escritores frequentam, diga a todos que você é escritor. Se possível, a Merça em São Paulo, a Lapa no Rio e o Bar Ocidente em POA.

6) Escolha um autor mais ou menos consagrado e escreva resenhas elogiosas sistematicamente ao trabalho dele usando expressões como "a maior voz da nossa época", "consegue fugir as formas já desgastadas da narrativa recentemente publicada" e "tem um grande respeito pelas personagens".

7) Faça um curso de elaboração de projetos para captação de recursos culturais com ênfase na Petrobrás e Funart.

8) Entre no mestrado de Escrita Criativa de alguma faculdade renomada e siga tudo que os tutores ensinarem. Ou, pelo contrário, crie seu próprio método e linguagem; argumente em prol do seu método usando vocabulário filosófico amparado nos rodapés de Santo Agostinho, Aristóteles e Ortega y Gasset.

9) Fique amigo de algum editor e/ou alguém influente do mercado editorial.

10) Estude taekwondo e leia (apenas as páginas ímpares) de O Arco-íris da gravidade na privada.





domingo, 12 de dezembro de 2010

15 sintomas do escritor fracassado.


1) Ler apenas o que lhe dá prazer. 

2) Escrever de forma sincera e só na primeira pessoa.

3) Dizer que não se importa com a opinião dos outros.

4) Ao publicar um texto de ficção no seu blog, escrever um breve resumo/guia para o leitor entender o texto.

5) Ter mais de 18 anos e citar Bukowski enquanto defende a tese de que o mercado de livros é sujo e o sistema é mau.

6) Professor de português aposentado ou estudante de letras com mais de 30 anos, que escreve poesia ou contos, têm 98% de chances de ser um escritor fracassado.

7) Esperar pela inspiração.

8) Não ler literatura brasileira e desconhecer completamente autores contemporâneos.

9) Usar expressões como "estranha sensação", "vazio da alma", "coração despedaçado", "ela era tudo que ele precisava", "formavam um lindo casal", "pulsante", "céu azul" ou "nunca poderia esperar que aquilo fosse acontecer naquele dia".

10) Jornalismo literário.

11) Citar trechos de Caim do Saramago.

12) Usar expressões como "no atual nível de evolução da mente humana","com advento das novas mídias" e " imperialismo da virtualidade" em artigos onde expressa sua indignação frente ao indivíduo massificado e sem liberdade num mundo cada vez mais cruel e sem sentido.

13) Defender ou criticar Chico Buarque.

14) Tuitar por aforismo, neologismo e/ou "visite meu blog"

15) Escrever listas ou crônicas engraçadinhas usando trocadilhos para criticar o uso de trocadilhos.