segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Dez escritores falando sobre escrever, inspiração, etc

William Faulkner:

"Não sei nada a respeito da inspiração, porque não sei o que é - ouvi falar a respeito dela, mas nunca a vi."

Roland Barthes:

"Como escrever não é uma atividade normativa nem científica, não posso dizer por que nem para que se escreve. Posso apenas enumerar as razões pelas quais imagino escrever:


1. por necessidade de prazer que, como se sabe, não deixa de ter alguma relação com o encantamento erótico;
2. porque a escrita descentra a fala, o indivíduo, a pessoa, realiza um trabalho cuja origem é indiscernível;
3. para pôr em prática um 'dom', satisfazer uma atividade instintiva, marcar uma diferença;
4. para ser reconhecido, gratificado, amado, contestado, constatado;
5. para cumprir tarefas ideológicas ou contra-ideológicas;
6. para obedecer às injunções de uma tipologia secreta, de uma distribuição guerreira, de uma avaliação permanente;
7. para satisfazer amigos, irritar inimigos;
8. para contribuir para fissurar o sistema simbólico de nossa sociedade;
9. para produzir sentidos novos, ou seja, forças novas, apoderar-me das coisas de um modo novo, abalar e modificar a subjugação dos sentidos;
10. finalmente, como resultado de uma multiplicidade e da contradição deliberadas dessas razões, para burlar a idéia, o ídolo, o fetiche da Determinação Única, da Causa (causalidade e 'boa causa') e credenciar assim o valor superior de uma atividade pluralista, sem causalidade, finalidade nem generalidade, como o é o próprio texto."




Rachel de Queiroz:

"A noção comum que se tem a respeito do escritor é que pessoas excepcionais, nascidas com o dom de escrever bem o belo, são periodicamente visitadas por uma espécie de iluminação das musas, ou do Espírito Santo, ou de um outro espírito propriamente dito - fenômeno a que se dá o nome de 'Inspiração'. O escritor fica sendo assim uma espécie de agente ou médium, que apenas capta as inspirações sobre ele descidas, manipulando-as no papel graças 'aquele' dom de nascimento que é a sua marca. Pode ser que existam esses privilegiados - mas os que conheço são diferentes. Não há nada de súbito, nem de claro, nem de fácil."

João Cabral de Melo Neto:

"Há dois tipos de poetas: os esforçados e os inspirados. O poeta inspirado tem defeitos que o esforçado não tem, e vice-versa. Eu, por uma questão de temperamento, me coloco entre os esforçados. Há quem diga que tudo que não é espontâneo não é autêntico, mas não concordo com a opinião. Com o esforço, pode-se aperfeiçoar sempre uma obra, independente da inspiração". 



Amós Oz:

“Depois de percorrer todo o caminho, da extrema direita até a esquerda, eu decidi que preferia contar histórias em vez de dizer ao mundo como viver. Desistira dos discursos com pontos de exclamação. No processo, o que eu havia aprendido? Ironia, ceticismo, relativismo. E um pouco de humor, que vem junto no pacote. Aprendi também a arte de ouvir. Ouvir é importante, num país onde as pessoas só gritam. Por causa dessas lições, tento ser o advogado de todo mundo em meus romances e busco grau idêntico de empatia com cada personagem. Só escrevo quando percebo, dentro de mim, diversas vezes, um mesmo assunto. Claro que tenho opiniões próprias, mas não quando faço ficção”.

Don DeLillo:

"Eu me tornei um escritor vivendo em Nova York e olhando, escutando e sentindo todas as grandes, espantosas e perigosas coisas que a cidade acumula incessantemente. Também virei um escritor evitando ter comprometimentos sérios".


Ernest Hemigway:

"Das coisas que aconteceram, e das coisas tal como existem, e de todas as coisas que se sabem e de todas aquelas que não se sabem, a gente faz algo, através da invenção, que não é uma representação, mas sim algo inteiramente novo e mais verdadeiro do que qualquer coisa verdadeira e viva, e a gente lhe dá vida, e a faz bastante bem, e lhe dá imortalidade. Eis aí por que se escreve, e não por qualquer outra razão que se saiba. Mas que dizer de todas as coisas que ninguém conhece?"

Italo Calvino:

"De certo modo, acho que sempre escrevemos sobre algo que não conhecemos, escrevemos para dar ao mundo não-escrito uma oportunidade de expressar-se através de nós. Mas, no momento em que minha atenção vagueia da ordem estabelecida das linhas escritas para a complexidade mutável que nenhuma frase consegue apreender totalmente, chego quase a entender que além das palavras há algo que as palavras, poderiam significar".

Juan José Saer:

"As razões por que se escreve ficção são as mesmas por que se crê em Deus. Crê-se na ficção, e em Deus, para que ela confirme a realidade do mundo e lhe dê um sentido. A Bíblia é o exemplo de um livro que permanecerá no futuro, como uma grande ficção, ainda que seus objetivos inicias tenham sido outros".


Ricardo Piglia:

"Porque o mundo da ficção me intriga: a circulação das histórias, os disfarces da língua e o poder da crença. A literatura é o laboratório do possível: um lugar onde pode se experimentar, fazer a mistura do velho com o novo. Escrevo porque a literatura é a forma privada da utopia".

2 comentários:

  1. Acabo de colocar Ámos Oz em minha lista de leituras para este ano! Porque é uma delícia reconhecer-se na opinião do outro, ainda mais num caso desses em que não foi preciso tirar ou por vírgulas para sentir-me representada.

    Aventurei-me há pouco ser escritora. Se tiver tempo analisa meu conto? :)É permitido me desanimar, se for o caso :)

    http://cassandrakisaco.blogspot.com/2011/01/simone-um-conto-no-meio-do-dia.html

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  2. Assisti a uma apresentação do OuLiPo (www.oulipo.net), em que um deles chamou a atenção de como era caro ter inspiração.
    Tomou notas de quanto era preciso pra ser romântico, pra ser surreal; só o que um dadaísta gastava em cafés e em ingressos para perturbar apresentações dos outros, deveria ser uma fortuna...

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